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Mostrando postagens de outubro, 2018

31/10 - Milano

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Se lá em Escópia o walking tour foi aquela coisa solo, privativa, só nós e a inenarrável Afrodita a cobiçar o conteúdo de nossos bolsos, aqui em Milão tudo muda de figura, com um enorme e eclético exército de turistas a seguir Marco, nosso guia, um divertido showman, mais interessado em contar as fofocas de tempos milaneses passados e presentes do que em repetir aquela ladainha histórica chata de sempre. Também provavelmente portador de um TOC moderado, passou as três horas e  vinte da caminhada catando os pedacinhos de papel jogados no chão pelo qual passávamos e levando-os ao lixo.  E hoje, finalmente, como uma crise de hemorróidas que tarda mas não falha, chegou a chuva. Não aquela coisa torrencial a ensopar nossas roupas e almas ou nos manter prisioneiros voluntários dentro de algum lugar com teto, mas suficiente para encher o saco, limitar a livre deambulação e tolher o direito de ir e vir, e, mais tarde, garantir que carros passando rápido pela rua aspergissem as nossas pernas co

30/10 - Istanbul, Milano

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E hoje tive mais meio dia para me despedir de Istambul, uma vez que uma terceira ida pra lá também já é demais, né. Última oportunidade para me entupir de lokum e entrar em mesquitas, antes de iniciar o derradeiro trecho ocidental da viagem. Engraçada esta sensação de "nunca mais", principalmente agora que, mesmo que tenha estado virtualmente silencioso nos últimos dias, posso ter um câncer corroendo minhas entranhas. Explicaria esta pança que não pára de crescer. Agora à noite, chegando em Milão, percebo que aqui no primeiro mundo as malandragens são outras. Como o vôo mais barato chegar num aeroporto que fica a 54 km da cidade, forçando uma outra miniviagem de ônibus a 8 euros por cabeça, e o hotel, como tradicional nesta faixa de preço sendo nada mais do que uns quartinhos de dormitório, com duas camas, um armário e uma mesinha, com aquela chave que você tem que cagar de medo até encontrar onde e com quem pegá-la, ou ficar trancado à noite do lado de fora, embutindo uma ta

29/10 - Istanbul

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Hoje, como estava meio por aqui mesmo, assim sem o que fazer, resolvi dar uma passadinha por Istambul.  Oriente médio, Àfrica do norte, estas autocracias e teocracias muçulmanas sempre me assustaram. Consegui passar por Israel antes da segunda intifada e depois voltei a entrar  em modo de cagaço até há uns anos, quando criei coragem para vir para a Turquia, que me surpreendeu positivamente, com, a par daquela mentalidade ishperta de comerciante árabe e da dificuldade dos locais com o inglês, acabou me deixando uma impressão geral de segurança e tolerância. Mais do que qualquer outro lugar na viagem até aqui, Istambul é um caos, com o formigueiro humano em seu estado mais selvagemente superlativo, centenas de milhões de pessoas se esbarrando nas ruas pequenas, as portinhas de comerciozinho mambembe, com praticamente casa sim, casa não, sendo uma loja de doces ou um estabelecimento de câmbio de dinheiro. Mas mantém um charme que não consigo explicar, onde em outras tantas cidades vi apen

28/10 - Θεσσαλονίκη

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Tessalônica. Como não querer visitar um lugar chamado Tessalônica? Seria o mesmo que não querer visitar as entranhas de alguma Verônica, não sei por que este sufixo tem este efeito em mim. A respeito da Grécia, continua valendo a impressão que uma amiga compartilhou décadas atrás: você vai pra Lerna, e encontra não a hidra, mas um McDonald's. Vai pra Creta e encontra não o minotauro, mas um Starbucks. Vai pra Lesbos e encontra não Safo, aquela safada, mas uma loja da Hugo Boss. Com Tessalônica, não é diferente. Uma cidade grandona, com quilômetros e quilômetros de uns predinhos residenciais de arquitetura anos 70, com as devidas lojinhas e lojonas no térreo, ruas em obras e coisa e tal.  Aqui, mais do que em qualquer outra cidade até agora, uma quantidade nauseabunda de igrejas, todas devidamente indicadas como pontos turísticos, vagamente diferentes por fora e virtualmente indistintas por dentro. E ainda, com um único dia disponível para conhecer a cidade, resolvo fazer cair exata

27/10 - Скопjе, Θεσσαλονίκη

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Pra variar um pouco a ração diária de igrejas e monumentos nossa de todo dia, hoje fomos ao zoológico. Pequenininho, meio malcuidado, baratinho, e com uns 40% da população malandramente contituída por...cavalos. Não à toa, como se percebe, o mascote da instituição é o leão mais deprimido do mundo.  E cruzei com um macaco que visivelmente ficou muito feliz em me ver, se é que me entendem... Depois, à tarde, para selar a etapa balcânica da viagem, o último ônibus, em direção a Tessalônica. Já prenunciando a lenta volta à civilização, por assim dizer, o veículo já não era uma vanzinha furreca, mas um ônibus de verdade, com banheiro dentro e tudo, nào houve milhòes da paradas pelo caminho, e o cara até deu uma entradinha na rodoviária central da cidade, bem mais próxima ao hotel. Nào sentirei falta da precariedade de informações, má vontade média elevada por aquelas bandas, as taxinhas marotas para embarcar no ônibus e pra guardar as malas. Chegando na Grécia, que, cá entre nós, nem é assi

26/10 - Скопjе

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Hoje um dia meio bosta, tirado pra voltar aos lugares em frente dos quais só passamos ontem na breve e dispendiosa walking tour, como as várias coisas Madre Teresa por aqui, e um museu com uma coisinhas bundas, fotos interessantes da arquitetura de Kosovo, por onde acabarei não passando, e um casal de pianista e vibrafonista ensaiando uma peça fantástica que será tocada amanhã, de graça, mas quando já estaremos longe.  Aqui tem museu do holocausto, como em tantos lugares, baratinho mas pago. Lembro-me de já ter visitado vários, e não ter pago pra entrar. Parece-me o tipo de coisa que deveria ser mantida gratuita, subsidiada, para estimular a visita de quem quer que fosse, e não espantar gente mesquinha como eu. Será que daqui a umas décadas, se meu cólon descendente não tiver me levado de volta ao grande nada, terei que pagar para entrar no Museu Nacional do Tolitarismo da Bolsonarolândia? Haverá fotos minhas sendo espancado, expulso do serviço público, desovado numa vala com a boca ch

25/10 - Скопjе

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E eis que a viagem para Escópia, com uma dúzia de longuíssimas paradas para o motorista tomar alegremente um gorózinho com os outros passageiros, ainda assim nos deixou às 3 da madrugada na rodoviária da cidade, numa noite em que o frio, quando mais?, resolveu finalmente se apresentar em toda sua gélida imponência. Já sem medo de andar de madrugada pelas ruas desertas aqui do ocidente distante, marchamos para o hotel, onde o check-in era apenas às 2 da tarde. Este era hotel mesmo, e tinha o rapaz da recepção, mas como, visivelmente, ele próprio usava o sofá do pequeno aposento para dormir nas madrugadas em que uns brasileiros sem noção não baixam lá de repente, gentilmente deixou-nos ficar no jardim interno do hotel, aguardando sabia lá o que. Jardim externo. 5 graus centígrados. Pelo menos umas quatro horas lá naquele relento. Para depois simplesmente ainda sairmos para andar congelados pela cidade até darem as duas da tarde. Mas ao menos ganhamos um café da manhã a mais de presente,

24/10 - Tiranë

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Finalmente chega o dia de meu primeiro café da manhã incluído na conta do hotel, e é isto o que eu ganho: um monte de ovo frito. E sim, até mesmo aqui em Tirana há uma walking tour! Devidamente adaptada ao padrão de qualidade de oitavo mundo deles, o que aparentemente significa terceirizar a tarefa para um sujeito que faz bico como guia turístico particular, em quatro línguas, provavelmente todas tão mal-faladas quanto seu inglês. E fumando o tempo todo na cara da gente. Mas não era má-pessoa, e entregou a contento a lamúria esperada a respeito das dificuldades do tempo do comunismo e pobreza do país e coisa e tal. Levou-nos também à porção mais nova da cidade, esta mais bem-cuidadinha, até mesmo com sorveieria de grife com bola de sorvete a dois euros. Mas as portinhas espalhadas pelas ruas servem uns sabores bem mais doidos e entregam o mesmo resultado por meio euro a bola. Por aqui tem coisas que se a gente quisesse deliberadamente inventar, não conseguiria, como o hotel que fica fo

23/10 - Tiranë

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Pronto, agora finalmente eu cheguei longe demais. Longe não é um conceito  geográfico, neste particular pretendo fazer ainda mais bonito. Mas um outro tipo de longe, de ir se afastando daquilo que é familiar, ir dando tapas cada vez maiores na precariedade, meio como dar sucessivos tecos na orelha de seu gato até a hora em que ele perde a paciência e crava as unhas na sua córnea em sinal de protesto. Albânia. A verruga da hemorróida do cu da Europa, aquilo que até há uns 30 anos era só o comunismo mais feroz e a nação mais miserável e atrasada do continente, e agora é apenas um país periférico, pobre, subdesenvolvido, confuso, caótico, o mais favelão de todos pelos quais passei. Agora bati no fundo do poço, e daqui pra frente o caminho é pra cima. A primeira impressão da Albânia foi surpreendentemente positiva, ao passarmos por uma cidadezinha bonitinha pelo caminho, Shkoder, que parecia humilde mas limpinha, arborizada, interessante, ao menos vista pela janela do businho. Imaginei que