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Mostrando postagens de 2018

10/11 - epílogo

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Bom, a vida é assim, tudo começa, dura e depois acaba, e então recomeça, fica mais um pouco e termina de novo. Só o calor, o trânsito e minha pança é que não acabam nunca.  Sim, foi meio pegadinha, o nome do blog foi Até os Ovos nos Kosovos, numa rima que forçava horrivelmente a paroxítona, mas não teve Kosovo na viagem. Em parte porque não deu tempo e soluções logísticas, em parte porque o clima político lá ainda não é completamente pacificado, segundo os guias, em parte porque devia ser um lugar com ainda menos coisas pra fazer do que Montenegro ou Albânia. E também porque só pensei no nome alternativo deste blog, Até as Bolas nos Bálcãs, tarde demais. Nesta viagem, fui pra alguns dos últimos países recônditos e distantes que não havia visitado ainda. Agora restam muito poucos. Dada esta experiência na ex-Iugoslávia, sinto-me já meio saciado, não sei se muito cheio de vontade de ir parar em lugares como Moldávia ou Bielorússia futuramente. Restam ainda umas tantas cidades do interior

09/11 - Lisboa

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Pra compensar a escassez de fotos de ontem, hoje tem overdose de fotos no blog! Estou num estado de ânimo favorável porque hoje, comforme prometido a mim mesmo em meu programa de recuperação de dependência de mesquinhez do AA, os avaros anônimos, ofereci meu mais sincero e desmonetarizado aperto de mão ao Afonso, um português gente boa responsável pela walking tour do dia. Foi perceptível aquele meio segundo de cara de bunda que ele não conseguiu disfarçar ao constatar a ausência de dinheiro entre minha mão e a dele, mas é desculpável, afinal, o cara é português. E o objetivo do meu tratamento autoimposto foi não me tornar um sujeito mais justo ou generoso, mas tão somente  tentar ser menos de um moleque covarde e tíbio. E vou elogiar o cara quando me chegar o e-mail pedindo avaliação. Também, em meu lento e insuficiente caminho para a redenção, hoje comprei duas caixinhas de cápsulas do café Nespresso que tenho filado na faixa e na cara dura ao longo de toda a viagem. Todas juntas dev

08/11 - Lisboa

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Hoje o blog tá numa pobreza dolorosa de fotos, gente boa, desculpem aí! Por sorte, tem muito poucas (ainda que valorosíssimas) pessoas lendo. Entre sair do hotel, tomar o trem até o aeroporto, esperar o avião, ficar dentro dele, chegar em Lisboa, metrô até o hotel, banho e sair pra comer alguma coisa, o dia já havia terminado, e, no final, não tinha havido nada muito relevante pra fotografar. Fiz então só umas fotos aleatórias, pra constar. Estar em Portugal embute certa estranheza. Depois de passar o mês falando meu cada vez mais patético inglês, e tentando arranhar algum francês e italiano lamentáveis, peguei-me não conseguindo falar português com os comissários de bordo ou com os locais, meio que reprisando a sensação tão reforçada dia após dia de "não me entenderão", mesmo sabendo que agora minhas chances eram muito melhores. Há esta vaga alienação de ler um português que não é exatamente o seu, estar num lugar alienígena, em que, ainda assim, falam algo muito próximo à s

07/11 - Roma

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Os golpes pra tirar dinheiro da gente são vários... Ostensivos, insidiosos, pilantras, bem-intencionados.... Pela manhã fui abordado por uma mocinha pedindo assinaturas para uma petição contra as drogas. Podia ter dito "não, obrigado, estou com pressa", mas que graça tem estar viajando e também não se deixar abordar, como convencionalmente faço com neguinho do Greepeace e daquelas campanhas de "mostre seu cartão de crédito e ganhe uma assinatura da revista tal completamente gratuita, só pagando 200 reais de taxa de envio por mês" e o caralho a quatro? Então, resolvo encarar e, coçando a cabeça, dizer a ela que não sou contra as drogas, até as acho simpáticas, o problema é seu mau uso... E ela diz que isto faz parte de seu trabalho de recuperação, foi uma dependente de cocaína e sei lá mais o que por oito anos. Condescendentemente, reafirmo que, viu só, o problema foi o abuso, já pensando em assinar a petição, generosamente intencionando ajudar no tratamento de uma d

06/11 - Roma

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Roma é aquela coisa: cidade enorme, meio uma Paris mais esculhambada, trânsito aleatório, você está andando na rua, dobra a esquina e dá de cara com uma ruína do tempo em que jesus cristo ainda nem tinha sido circuncisado. O sorvete continua ótimo, um pouco mais caro, e pela primeira vez na viagem parece que aqui há uma fartura maior de restaurantes coma-o-quanto-quiser que não se limitem a sushi e a preço não tão estuprante. O hotel, improvável que possuído mas visivelmente tocado por um staff integralmente constituído de indianos, ou, não sei, cingaleses de inglês escasso e abulia borbulhante, como não antes até aqui não tinha toalhas no quarto, então finalmente precisarei tirar a minha da mochila. Não tinha papel higiênico pendurado, então precisei ir pedir por tio, meio enrolado na toalha, e o cocô não vai embora fácil da privada, mas fica só sambando teimosamente de lá pra cá a cada descarga, apegado a este plano de existência. Não choveu, mas a temperatura por aqui continua, na m

05/11 - Firenze

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Dia pouco memorável hoje, afinal, com a walking tour padrão, passar na frente de um monte de igrejas pagas pra entrar, parque fechado porque a chuva havia derrubado umas árvores, mas que aparentemente também seria pago se estivesse aberto. Não entendi muito este lance das megaigrejas que se tornam atrações turísticas, cobram entrada e deixam de ser locais de comunhão com nosso senhor jesus cristo, porque não têm mais missa e não dá mais pra ir lá comer a hóstia. Em compensação, o sorvete aqui é criativo, saboroso e, procurando bem, até mesmo barato. Ontem tomei de profiterole, menta e streghi, strudzi, ou algo assim. Sorvete é que nem sauna gay, a gente tem que experimentar todos os sabores.  Mais em compensação ainda, tem sido um hábito recorrente is filar café nas lojas da Nespresso, resignando-se ao ritual de tirar a senha, esperar a vez, ser designado a um vendedor de barba bem feitinha, modos frequentemente efeminados, soberba inversamente proporcional ao tamanho do café que sai d

04/11 - Firenze

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No final, deu pra ver um pouco de Bolonha à luz do sol, ou ao menos à luz do dia nublado, deixando as tralhas num canto da salinha do porteiro do museu Morandi, que hoje, primeiro domingo do mês, era gratuito. Muito bom que tenha sido, porque 2/3 do museu eram de fato preenchidos por quadros de Morandi, que é bem fraquinho, e teria sido muito frustrante pagar pra entrar naquilo. Em seguida, depois de chegar em Florença, batalhar como sempre para encontrar a porcaria do hotelzinho mal-sinalizado encrustrado nos fundos de uma vielinha (este, afortunadamente, com portaria 24 horas e banheiro fora do quarto, então pode inundar o quanto quiser...), e descobrir que não tinha nada muito interessante acontecendo à noite, além de um musical da Mary Poppins meio tosco, a 32 euros por cabeça e falado em italiano, além de, claro, cinema dublado em italiano, nada mais pude fazer senão ir me reaproximar de jesus, o cristo, trazê-lo de volta para próximo, ou, melhor ainda, dentro de mim. Como não sou

03/11 - Bologna

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Mapas são como sexo anal. A distância que no papel nem parece assim tão grande na prática se mostra mais interminável do que inicialmente supúnhamos. Aquilo não chega ao fim nunca, meu bom deus, principalmente quando o hotel escolhido é pra cima da estação de trem, e tudo o que há de interessante fica pra baixo dela.  Mais: ao chegar ao local, apenas outro prédiozinho residencial, numa área meio deserta, com um botão de campainha ali encondidinho, ao qual mais uma vez ninguém responde. Por sorte, depois de algum desespero não incluído no preço da diária e muita comunicação gestual ineficaz com um vizinho que por ali passou, um senhorzinho com nenhum conhecimento de inglês e de limitada mas ainda assim inestimável boa vontade que chamarei sei lá por que de Gepetto, consegui fazer com que este ligasse para a vaquinha dona do estabelecimento, a qual, com grande aspereza, acabou por lhe informar que a chave havia sido deixada na caixa de correio na frente da grade. Pros padrões do Brazil i

02/11 - Gardaland

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Hoje foi dia de sentir ainda mais agudamente a passagem do tempo, de oferecer o olho para que o envelhecimento desse nele sua mais escarrante e catarrenta cuspida, e de sentir pena de mim mesmo pela juventude já tão distante e pela covardia de seguir sobrevivendo a mim mesmo, morando cada vez mais num corpo crescentemente decrépito, porque a alma, esta excreção de neurônios já tão velhos, já foi pro espaço faz tempo. Como tradicional em minhas cada vez mais escassas viagens de férias, tenho acrescentado uma  maratona, um parque de diversões e uma missa ao roteiro (porque avaliar o frescor e a crocância do corpo de cristo sempre é importante). Cumprida e primeira e ainda devendo a terceira, hoje foi dia da segunda coisa. Ir lá ser aquele tiozão ridículo, de barbas literalmente brancas, de pé na fila e andando na montanha russa com a molecada, questionando desesperadadamente minha trajetória existencial que de tempos em tempos me coloca de volta neste mesmo lugar, e não fazendo coisas de