09/11 - Lisboa


Pra compensar a escassez de fotos de ontem, hoje tem overdose de fotos no blog!


Estou num estado de ânimo favorável porque hoje, comforme prometido a mim mesmo em meu programa de recuperação de dependência de mesquinhez do AA, os avaros anônimos, ofereci meu mais sincero e desmonetarizado aperto de mão ao Afonso, um português gente boa responsável pela walking tour do dia. Foi perceptível aquele meio segundo de cara de bunda que ele não conseguiu disfarçar ao constatar a ausência de dinheiro entre minha mão e a dele, mas é desculpável, afinal, o cara é português. E o objetivo do meu tratamento autoimposto foi não me tornar um sujeito mais justo ou generoso, mas tão somente  tentar ser menos de um moleque covarde e tíbio. E vou elogiar o cara quando me chegar o e-mail pedindo avaliação.


Também, em meu lento e insuficiente caminho para a redenção, hoje comprei duas caixinhas de cápsulas do café Nespresso que tenho filado na faixa e na cara dura ao longo de toda a viagem. Todas juntas devem me propiciar uns 10 mililitros inteirinhos de café, que conseguirei preparar se nenhuma das algumas antas que tenho como colegas de plantão naquele fardo que é o Hospital Pinel tiver queimado de novo a cafeteira.



Depois de passar a tarde, raramente com sucesso, tentando desviar o meu caminho e meu olhar daqueles repulsivos azulejinhos azuis portugueses, fui à noite ao cinema, para coroar o fim da viagem e começar a contrair meu coração em desesperada resignação com a iminente volta à vida besta de sempre, calor, trânsito, ambulatórios abjetos e plantões nada emocionantes incluídos, para acumular um pezinho de meia para, talvez em breve, aquele outro ser que igualmente habitou o útero de minha finada mãe acabar imerecidamente herdando mesmo. Filas gigantescas pra comprar o ingresso, centenas de portugueses se esbarrando e esbarrando em mim, como hordas de moscas varejeiras voando em enxame ao redor de um pastel de Belém. À medida que as salas iam se lotando, demonstrações da tecnologia lusitana de ponta iam sendo dadas: folhas de papel eram coladas na parede da bilheteria informando que a sessão estava esgotada.


Tudo posto, sei lá se porque virei um velho (apenas marginalmente) mais tolerante, se porque passei por tantos cus de mundo nesta viagem que meus parâmetros estéticos intuitivos deram uma laceada, ou se foi Portugal que evoluiu um pouquinho de uns vinte anos pra cá, mas a impressão tão negativa que tive de Lisboa em minha primeira vinda, quando meus corpos cavernosos eram mais cheios do que a minha pança, de meio que uma grande Salvadorzona escrotamente resplancente em sua pelorinhice difusa, só com menos maresia, se desfez bastante. Até que é uma cidade bem simpatiquinha, e afinal não apenas ela exala um inopinado cheiro eventual de bacalhau, se é que me entendem.




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