07/11 - Roma

Os golpes pra tirar dinheiro da gente são vários... Ostensivos, insidiosos, pilantras, bem-intencionados.... Pela manhã fui abordado por uma mocinha pedindo assinaturas para uma petição contra as drogas. Podia ter dito "não, obrigado, estou com pressa", mas que graça tem estar viajando e também não se deixar abordar, como convencionalmente faço com neguinho do Greepeace e daquelas campanhas de "mostre seu cartão de crédito e ganhe uma assinatura da revista tal completamente gratuita, só pagando 200 reais de taxa de envio por mês" e o caralho a quatro? Então, resolvo encarar e, coçando a cabeça, dizer a ela que não sou contra as drogas, até as acho simpáticas, o problema é seu mau uso... E ela diz que isto faz parte de seu trabalho de recuperação, foi uma dependente de cocaína e sei lá mais o que por oito anos. Condescendentemente, reafirmo que, viu só, o problema foi o abuso, já pensando em assinar a petição, generosamente intencionando ajudar no tratamento de uma dependente. E eis que então a folhinha na verdade é uma coleta de contribuições para o mocozinho de tratamento dela. Com valores que chegam a 20 euros, dados por algumas boas e abastadas almas! "Posso apenas assinar, mas sem fazer uma doação?", pergunto eu, buscando uma solução de consenso. E recebo então aquele olhar de desprezo fulminante de quem reduz toda minha humanidade à condição de contribuinte. Então ela vai em busca de mais doadores, e eu vou filar mais um café na Nespresso.

Mas meu apego ao vil metal ainda hoje me valeria um momento incomparavelmente mais vergonhoso e indesculpável, sem dúvida meu ponto mais baixo nesta viagem, em uma carreira de ser humano que, na média, já não chega a merecer menções de mérito e estrelinha da professora.

A walking tour de hoje valeu cada centavo dolorosamente não pago. Nosso guia, um chap inglês, formado em história clássica, ao longo de mais de três horas nos deu uma aula fantástica sobre Roma, com uma afetação levemente posh mas ainda assim enorme fartura de gentileza, bom humor e preocupação com seu público. Talvez um leve excesso em frisar que se tratava de uma caminhada gratuita, o que significava deixar a nosso critério quanto seu trabalho valia. Grupo de umas dez pessoas, e eu cá, ser humano pequeno e abjeto que sou, já desde o início pensando: "como é que vou fazer pra cair fora no final disto aqui, sem pagar?"...

No final da caminhada, então, após aplaudi-lo copiosa e merecidamente, junto com os outros membros do grupo, simplesmente decido por as mãos no bolso e me afastar rapidamente, sem olhar para trás. Escutando, cada vez mais ao longe, o sujeito chamando: "hey, mate, está tudo bem?".... Para depois ir almoçar, com os 5 euros que podia ter dado a ele, um macarrão envenenado pela minha mesquinhez, com o peso de meu apequenamento vergando minha espinha, me sentindo um moleque minúsculo, desprezível, incapaz de sequer a modesta grandeza de dar a ele, se não o dinheiro que fico acumulando dentro de meu rabo para, no fim, ser herdado por minha imprestável irmã que, sabe bem deus, nada fez para merecê-lo, ao contrário do guia, ao menos um aperto de mão sincero e algumas palavras de agradecimento.

Mas a partir de agora tudo vai mudar. Começo a partir de hoje a seguir os doze passos dos Mesquinhos Anônimos. Reconheço-me aqui publicamente um egoísta argentário, vil, pequeno, enojante, ser humano minúsculo e abjeto (primeiro passo). E me dispus a fazer a reparação possível: escrevi um e-mail para a companhia de tours, dando uma desculpa meio furada para meu afastamento e agradecendo ao sujeito pela ótima caminhada proporcionada (nono passo). Daqui pra frente, dinheiro continuarei não dando, porque aí também já seria esperar demais de mim, mas uma despedida adulta, cortês, educada e reconhecedora do esforço alheio nunca mais faltará. 

Vai melhorar, mas ainda me sinto bem um merda.