03/11 - Bologna


Mapas são como sexo anal. A distância que no papel nem parece assim tão grande na prática se mostra mais interminável do que inicialmente supúnhamos. Aquilo não chega ao fim nunca, meu bom deus, principalmente quando o hotel escolhido é pra cima da estação de trem, e tudo o que há de interessante fica pra baixo dela. 


Mais: ao chegar ao local, apenas outro prédiozinho residencial, numa área meio deserta, com um botão de campainha ali encondidinho, ao qual mais uma vez ninguém responde. Por sorte, depois de algum desespero não incluído no preço da diária e muita comunicação gestual ineficaz com um vizinho que por ali passou, um senhorzinho com nenhum conhecimento de inglês e de limitada mas ainda assim inestimável boa vontade que chamarei sei lá por que de Gepetto, consegui fazer com que este ligasse para a vaquinha dona do estabelecimento, a qual, com grande aspereza, acabou por lhe informar que a chave havia sido deixada na caixa de correio na frente da grade. Pros padrões do Brazil isto é tão bizarro que soa como displicência ou vontade de ter seu apartamento invadido e dilapidado por estranhos, e não o dia-a-dia em uma cidade cuja criminalidade e civilidade estão em outra real ordem de grandeza.
Enfim. Depois, ainda toca a voltar lá pro centro da cidade, e, conclusão, o dia turístico estava começando umas 4 da tarde, e sem possibilidade de ser esticado para a manhã seguinte, após o check-out, pois, neste esquema de recepção-zero, não haveria onde ou com quem deixar a bagagem.


À noite, depois de fotografar umas igrejas meio no escuro e ficar com a impressão de que seria uma belíssima cidade sob a luz do dia, mais uma tentativa frustrada de assistir um filme não-dublado no cinema. Até havia uma sala que passava filmes em versão original, segundo o guia, mas, depois de chegar nela, lá longe, ao sacrifício de ir jantar num buffet de comida chinesa que parecia bastante promissor, a leitura da letrinhas miúdas do cartaz com a programação mostrou que a exibição do filme original se dava em uma única sessão semanal, a última das noites das segundas-feiras! Hoje é sábado.


De volta ao quarto, frustrado, decidido a lavar toda esta nhaca num bom banho, descubro que o ralo do chuveiro, ao contrário da cidade, não era assim tão católico. De qualquer modo, fui encarando, abrindo e fechando a àgua, para lhe dar tempo de escoar. Mesmo assim, ao sair do box, percebo que não só o banheiro mas virtualmente todo o apartamento havia sido totalmente alagado, porque não havia qualquer outro ralo no estabelecimento, além daquele do chuveiro, semi-entupido. E aí toca a passar mais duas horas tentando drenar minimamente o lugar coma toalha de banho sendo torcida na pia, pra conseguir dormir em algo semelhante a um quarto de hotel e não na Atlântida, o continente perdido. 


Ah, sim, o blog vai atrasar hoje, porque não tem internet neste lugar infernal. E só tinha uns 5 picotinhos de papel higiênico no rolo, então juro que se der vontade de fazer o número dois aqui no apartamento da tia, farei uma uso muito criativo da pia e da toalha encharcada dela.


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