08/11 - Lisboa

Hoje o blog tá numa pobreza dolorosa de fotos, gente boa, desculpem aí! Por sorte, tem muito poucas (ainda que valorosíssimas) pessoas lendo. Entre sair do hotel, tomar o trem até o aeroporto, esperar o avião, ficar dentro dele, chegar em Lisboa, metrô até o hotel, banho e sair pra comer alguma coisa, o dia já havia terminado, e, no final, não tinha havido nada muito relevante pra fotografar. Fiz então só umas fotos aleatórias, pra constar.


Estar em Portugal embute certa estranheza. Depois de passar o mês falando meu cada vez mais patético inglês, e tentando arranhar algum francês e italiano lamentáveis, peguei-me não conseguindo falar português com os comissários de bordo ou com os locais, meio que reprisando a sensação tão reforçada dia após dia de "não me entenderão", mesmo sabendo que agora minhas chances eram muito melhores. Há esta vaga alienação de ler um português que não é exatamente o seu, estar num lugar alienígena, em que, ainda assim, falam algo muito próximo à sua língua. Os nomes das estações de metrô são estranhos, remotos, mas esquisitamente compreensíveis. Olivais. Chelas. Olaia. Alvalade. Cabo Ruivo. Poderiam ser nomes de uma matilha de cachorros retirados da rua por uma senhorinha excêntrica. Ao mesmo tempo, o que menos escutei nas ruas hoje foi o português de Portugal, e sim inglês e línguas menos frequentes de turistas e imigrantes, e, muito mais vezes, carioquês, baianês ou algum outro dialeto de hordas de brasileiros visitando ou morando nisto aqui.

Chegando à hospedagem, a dona do estabelecimento aguardava em frente da porta. À minha pergunta sobre se estava esperando faz tempo, respondeu que "sim, este é meu trabalho", num daqueles cativantes coices de portugueses que dizem os experts não se tratar de grosseria, mas apenas desta sutil dissonância comunicacional mais perceptível entre os que falam línguas muito próximas do que entre aqueles entre os quais já se espera uma distância semântica bem maior mesmo.

Aproveito pra contar uma piadinha de português que originalmente escutei de meu pai, que, num momento em que eu era uma criança (ainda mais) temperamental, me falava de ciência, e a quem agora, como tantos ao meu redor que se encasulam num mundo da lua de obscurantismo supersticioso, provoco com o que um dia me apresentou:
Dizem que o genial cientista lusitano professor doutor Joaquim Manoel, preocupado com as agruras dos moradores de regiões agrestes e desérticas, inventou a pílula de água, para que estas pobres pessoas não passassem mais sede. Basta diluir uma pílula de água em um copo cheio de água, e você instantaneamente tem um copo de água inteirinho para beber! Meio assim também é deus, almas, espíritos e o que valha: você dilui uma dose de deus num universo sem deus, e tem prontinho um universo criado por deus indistinguível de um universo sem deus para fazer dele o uso que melhor lhe aprouver!


Ah, sim, recebi uma resposta burocrática e protocolar ao e-mail enviado ontem. Não de Nick, o guia de quem fugi covardemente, mas do gerente da companhia mesmo. Não sei se declaro a missão cumprida e deixo passar, ou se volto a escrever insistindo para que minha mensagem chegue a seu legítimo destinatário. Que, enfim, diariamente deve passar pos situações como a de ontem, já esta acostumadíssimo e já perdeu faz tempo mesmo qualquer fé na grandeza humana.

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