09/10 - Prólogo
E Bolsonaro vem aí.
Estou de indo embora de meu país, mas, lamentavelmente, é só temporário.
Viver é mais ou menos como fazer sexo anal com um hipopótamo: quanto mais tempo leva, mais aquilo vai te arregaçando, estuporando, esfurdricando, eviscerando. Já dura muito minha sentença perpétua, por um crime que, ao contrário do Lula, não cometi. Tempo demais para ver o resto de mim ir se tornando um pequeno apêndice de minha pança, e não o contrário, como já foi um dia, quando eu ainda estava no útero daquela que não me abortou, e agora, sob Bolsonaro, poderia fazê-lo ainda menos. Para ver as entradas em minha testa progredirem até se fundirem à minha bunda. Para finalmente agora ver meu país se transformar numa Turquia, com um rebanho humano em transe acolhendo sorridentemente a servidão voluntária, transformando esta pátria na qual fui defecado em um bantustão reacionário, raivoso, preconceituoso, evangélico, obscurantista.
Com um mês pela frente para termer só ser admitido de volta se conseguir comprovar na alfândega que já dei um cacete numa namorada, alguns tiros num assaltante, e melhor ainda se ele também for homossexual, que me opus ativamente à ortotanásia de uns 3 pacientes numa UTI e que trago o sagrado nome de nosso senhor jesus cristo tatuado em meu próprio prepúcio.
A vida, como um implante de fezes, entra na gente por trás, e por baixo. Sem beijinho na nuca. Sem direito a cuspidinha. E já que é esforço imprescindível mas ainda assim sobrehumano dar as costas e ela, darei as costas a meus raros leitores nas fotos deste blog. Porque tô com vergonha de mostrar a cara, só me resta mostrar a bunda.
Nunca foi tão necessário cair o avião no qual estou prestes a entrar. Mas não vai acontecer.
Comentários
Postar um comentário