24/10 - Tiranë


Finalmente chega o dia de meu primeiro café da manhã incluído na conta do hotel, e é isto o que eu ganho: um monte de ovo frito.


E sim, até mesmo aqui em Tirana há uma walking tour! Devidamente adaptada ao padrão de qualidade de oitavo mundo deles, o que aparentemente significa terceirizar a tarefa para um sujeito que faz bico como guia turístico particular, em quatro línguas, provavelmente todas tão mal-faladas quanto seu inglês. E fumando o tempo todo na cara da gente. Mas não era má-pessoa, e entregou a contento a lamúria esperada a respeito das dificuldades do tempo do comunismo e pobreza do país e coisa e tal. Levou-nos também à porção mais nova da cidade, esta mais bem-cuidadinha, até mesmo com sorveieria de grife com bola de sorvete a dois euros. Mas as portinhas espalhadas pelas ruas servem uns sabores bem mais doidos e entregam o mesmo resultado por meio euro a bola.


Por aqui tem coisas que se a gente quisesse deliberadamente inventar, não conseguiria, como o hotel que fica fora do mapa ou a bilheteria escondida nos fundos do teatro: à tarde, com todo o pouco a ver já visto, tentamos ir matar tempo no cinema, até a saída do ônibus. Após muito correr para chegar no horário, para descobrir que a sessão do filme não ocorreria, porque éramos os primeiros espectadores a se interessar, e havia a necessidade de um mínimo de quatro pessoas para exibirem o filme. O que coloca questões interessantes, como o que fazer com um único espectador que compra o bilhete pela internet, o imperativo de formarmos uma pequena fila lá na frente do caixa antes de comprar o bilhete, e não meia hora antes e depois ir tomar um lanche, ou mesmo a situação de 1500 pessoas passarem pela bilheteria, se desinteressarem por esta situação e o filme acabar não sendo exibido por falta de quórum, apesar de tanta gente ter desejado vê-lo. E aqui é Albânia, Portugal é mais lá pra cima.



E como no blog e na existência do Aderbal não pode faltar ao menos uma ocasião por viagem que não envolva fartas doses de cocô, depois de comer um rocambole de chocolate meio mal-apessoado na barraquinha de rua cuja pizza ao menos era muito gostosa e aparentemente inofensiva, fui acometido por uma súbita, imediata e instantânea vingança de montezumovich. Ao contrário do que sugere todo o pouquíssimo do que ainda lembro de fisiologia digestiva, foi só aquela coisa passar pelo esôfago para as comportas de meu inferno setentrional serem escancaradas, e isto a algumas horas de passar 9 horas trancado numa vanzinha sem banheiro a caminho de meu próximo emocionante, e, temi eu então, extremamente malcheiroso destino. 
Mas depois do despejo de alguns carregamentos de dejetos liquefeitos, passou.


Mal sabia eu que a viagem dura nove horas porque a cada 40 minutos o tio resolve fazer uma parada de hora e meia pro cigarro dos passageiros, pra não falar daquela complicação toda dos controles de fronteira, que no caso de hoje envolveu a revista mais preguiçosa de malas para presença de drogas, com um bocejante tio enfastiado demais para se dispor a retirar de minha mochila aquele monte de roupas amarfanhadas, que dizer do monte de anfetamina que carrego dentro dela, em lugar bem visível, para combater o sono que existir me causa.

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