18/10 - Белград


Como já disse Paulo Coelho, naquele estilo de linguagem meio pedestre mas bilionária dele, é preciso reconhecer os sinais. O nome do ônibus já prenunciava o que nos aguardava logo mais...
Depois de uma noite muito mal dormida, porque afinal dentro de um ônibus, e com mochila no pé para economizar a taxa picareta para deixar as malas no bagageiro, e porque teve entra-e-sai a noite toda, para passar na imigração de saída húngara, e depois na de entrada sérvia, e pausas pra fumar e o caralho, chegamos a Belgrado às 5 e tantas da madrugada, tudo escuro, fechado, estranho, uma rodoviária muito precária  e esquisita. Então toca lá pro hotel, mais um daqueles temíveis exemplos de apartamento particular convertido em casa de hospedagem com uma pessoa lá na frente vagamente disponível por umas duas horinhas pro check-in, e depois portas fechadas e nenhuma viva alma para ajudar com nada. 


O hotel fica num quarto andar de um semicorticinho decrépito. Obviamente, ninguém respondeu a uma campainha tocada às seis da manhã, ainda tudo muito escuro. Sem alternativa, vivi meu dia de mendigo, cochilando no chão da escadaria do quarto andar de um prédio desconhecido, para depois sair, ir tomar um café, e voltar as dez para ter a porta aberta por um negão lá da Mama África profunda, que falava apenas francês, parecia ser o proverbial faxineiro contratado a preço vil pelo capitalista dono da instituição, mas no final mostrou ser apenas um hóspede mesmo. Mas depois chegou a gerente, e tudo se resolveu.



A cidade, pobre, caótica, malcuidada, tem algo daquele charme de cortina de ferro dos anos 60, com aqueles prédios, antigamente estatais, enormes, carros antigos, bondinhos do início do século. O povinho, na média, varia entre o mal-humorado e o quase desbragadamente hostil. O contato com as pessoas e portanto o estar na cidade tem algo de opressor, como também senti na Rússia e na Ucrânia (mas não na Letônia, Lituânia, Estônia, Eslovênia, Eslováquia, Romênia, ou na própria Hungria, esquisito....). Não sei se é algo cultural, uma dureza de alma dos locais, ou a dificuldade com o inglês, que gera um constrangimento para responder que se transveste de rudeza.


E há dois dias sinto uma dorzinha chata em baixo ventre, que vai se localizando mais à esquerda, dorlorosa à palpação, com um pouco de febre agora. Provavelmente estou desenvolvendo uma diverticulite, que vai mandar esta viagem pras picas e me valer uma internação num glorioso hospital aqui nos desenvolvidíssimos hospitais dos Bálcãs. Comecei a mandar ver no anti-inflamatório, e, se for o caso, quero ver como conseguir um antibiótico adequado por aqui.
E, se sobreviver à provável perfuração intestinal, porque não é só o Bolsonaro que tem direito e merecimento, na volta a SP precisarei dar ao colonoscópio a honra de fazer aquilo que até hoje a minha desinteressante orientação sexual padrão não permitiu que qualquer coisa fizesse.


E para quem acha que o Aderbal tem o coração peludo, meu saco corrosivo é muito mais impressionante. Mais uma pobre calça que se vai, para além de qualquer possibilidade de resgate, ainda na primeira semana da viagem. Descanse em paz.





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